Segunda-feira, 2 de Março de 2009

Acabar com os ricos ou acabar com os pobres?

 

Divagações de um porco.
 
Li algures há muito tempo (não lembro aonde nem se foi verdade), que quando Otelo Saraiva de Carvalho visitou a Suécia, no pós 25 de Abril, teria dito a Olof Palme que em Portugal ”queremos acabar com os ricos”, ao que o malogrado primeiro ministro sueco da altura teria respondido que na Suécia “queremos acabar com os pobres”.
 
Olof Palme foi um dos maiores exemplos da Social-Democracia, conseguindo conciliar uma economia de mercado com um estado social. Durante a sua governação a Suécia gozou de uma forte economia e dos níveis de assistência social mais altos no mundo. Contudo, incomodava muita gente, e acabou levando com uns “balázios” quando saía do cinema.
 
Já Otelo, conhecido herói da democracia portuguesa, preferia infundir as suas idéias à lei da bomba.
 
Mas este post não é para falar das idéias do Olof Palme nem do Otelo, mas sim para escrever umas porcarias sobre se devemos acabar com os ricos ou com os pobres.
 
Os defensores das causas mercadológicas, do capital e da globalização (leia-se direita) preferirá, obviamente, acabar com os pobres. Enquanto que os defensores das causas trabalhistas, da igualdade e da liberdade para todos, da divisão de riquezas (leia-se esquerda) preferirá acabar com os ricos (dividindo os seus bens pelos menos afortunados).
 
Mas deixem-me voltar um pouco atrás e explicar como começou esta minha indagação.
 
Tudo começou com as notícias que davam conta dos pacotes bilionários para ajudar o sector financeiro. Meio mundo levantou-se para criticar tais medidas que serviriam para ajudar banqueiros já podres de ricos e que esse dinheiro poderia acabar com a fome de milhões de pessoas no mundo. É uma verdade! Mas, se pararmos para analisar que as instituições financeiras não são casas de caridade e que todo o mundo “gira” em função das mesmas, poderemos facilmente concluir que acabar com a fome no mundo em vez de ajudar os bancos seria uma catástrofe.
 
Se com esse que dinheiro acabássemos com a fome no mundo, em vez de auxiliar a banca, isso traria conseqüências bem mais gravosas. Para além de milhões de pessoas e empresas perderem as suas poupanças, e com isso ficarem mais pobres, todo o funcionamento do mercado (principalmente o alimentar e o de logística) entraria em colapso levando ao caos e a bilhões de famintos (desculpem se estou a ser um néscio completo, mas nós os porcos pensamos mal como o caraças). Na minha estúpida opinião, é claro que se tinha que auxiliar o sector financeiro.
 
Mas voltemos ao pobres e aos ricos.
 
Os pobres sempre foram instrumento, e a razão, das causas políticas. Direita e esquerda sempre se gladiaram para ter o apoio destes. Uns com promessas de crescimento econômico, outros acenando com a igualdade entre todos, com divisão de riquezas.
 
Os exemplos de governos de esquerda no mundo são bastante elucidativos. O Exemplo chinês é o melhor. Depois da revolução cultural, para “fazer sair as serpentes da toca”, caiu numa feroz ditadura envolta, diz-se, em corrupção. Na década de 80 abriu as portas ao mundo capitalista e teve um forte crescimento econômico. O problema é que naquela liberdade e igualdade, uns são mais livres e iguais que outros. Hoje o aparecimento de bilionários, fruto desse mesmo crescimento, é o contraste com milhões que trabalham em condições sub-humanas, mal pagos, que sustentam essa dita igualdade e o crescimento econômico daquele exemplo de socialismo. E existem mais uns quantos exemplos dessa divisão de riqueza e liberdade espalhados pelo mundo. Eu até simpatizo com algumas idéias de esquerda. O problema é que o poder corrompe.
 
Já a direita é mais refinada. Corrumpida de origem (afinal chegar ao poder custa dinheiro) com os senhores do capital. Gaba-se da democracia, da liberdade de expressão, do crescimento econômico de todos. Deixa o pessoal ter tudo o que quer e, para isso, até deixa o pessoal se endividar até à medula. Todos crescem, todos são estimulados a adquirir e a gastar. É uma maravilha. O dinheiro corre a rodos. O pior é quando aparecem umas crisezitas e o pessoal vê que afinal não tem nada e até o que nada tem lhe é tirado para pagar o que não tinha.
 
Conclusão: Os ricos continuam ricos e os pobres continuam pobres... apesar das ideologias que os governam.
 
Então será que o problema é meramente político? Creio que não. Por muito que deitemos as culpas ao capitalismo, ao comunismo e ao diabo a quatro, o problema começa em cada um de nós.
 
Acabar com os ricos não é solução. Vamos acabar com os pobres?
 
É cada um de nós que tem que, voluntariamente, começar a aprender a dividir, a cuidar do que é de todos. Deixar de querer ter tudo só para si (e os outros que se lixem), para passar a partilhar, livremente e não por imposição. É deixarmos de viver em função do que temos, para vivermos em função do que somos.
 
O mais engraçado, sem graça nenhuma, é que a maior parte dos líderes que defendiam isso foram mortos. Começou com Um há dois mil anos atrás, que acabou numa cruz, e por aí foi, passando por Olof Palmes, Gandhis e tantos outros.
 
Umo comentador do blog, elegantemente me chamando de burro, disse que as minhas ideias “mais não são que um desfilar de idiossincrasias velhas e gastas”. Talvez tenha razão. Por isso perdoem-me pela minha inocência e utopia. Afinal sou apenas um porco burro a tentar pensar pela própria cabeça.
apesar de ainda não ser destaque do Sapo... sinto-me: divagando
publicado por Farroscal II às 16:46
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